sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013


         Movimento – nossa fatídica condição

Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão,  prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.
Filipenses 3:13-14


Em nossa jornada em direção ao curso proposto, percebemos que quanto mais avançamos mais do que o cenário muda, mudamos nós também. Isso não poderia ser diferente, pois as impressões colhidas pelo caminho por onde passamos gruda em nós e nos força a acolhê-las como parte de nós, como se fossem acréscimos necessários, até então desconhecidos, que nos compõem. Mudamos não só com o passar do tempo, também mudamos ao passar pelas sendas de nossa jornada, pois se é notório que deixamos nossas marcas na estrada que pisamos é natural que a estrada também em nós imprima as suas. E essa transformação é tão visível que todos nós podemos constatá-la olhando para quem éramos e em quem nos temos tornado, como bem observou Pascal ao afirmar que não existe nenhum homem tão diferente do outro do que dele mesmo depois de alguns poucos anos. Não cabe dizer se essas mudanças nos fazem pessoas melhores ou piores, mas é inegável  que elas nos fazem o que somos. Esse movimento constante nos deixa numa condição angustiante, pois o hiato existente entre o devir e o ser é desconfortável demais para criaturas tão ansiosas. Seguimos num rítimo acelerado de tal maneira que não conseguimos perceber as mudanças enquanto elas estão se passando, ou pode ser que achemos o processo entediante demais para observá-lo. Não devemos estranhar o rítimo, ele é necessário porque a monotonia nos deixa entediados, evidência de nossa constante transformação. Temos necessidade do novo, mesmo que ele nos assombre; ansiamos tanto o desconhecido porque nossa imaginação se alimenta de aventura. Talvez essa obstinação se explique pela pressa que temos de chegarmos ao fim da jornada, já que é de aventura em aventura que vamos nos tornando o que somos. Daí o fastio pela inércia e a indiferença pela monotonia. Nenhuma cena descreve melhor esse processo do que aquela retratada po J.R.R. Tolkien em Senhor dos Anéis. Frodo engaja numa aventura de proporção jamais imaginada. Ele vive experiências incríveis, conhece lugares extraordinários e pessoas fascinantes. Depois de cumprir sua árdua missão ele retorna para o seu lar, o Condado. O que é interessante no seu retorno é que não fora o tempo que ele estivera fora mas sim as experiências vividas que lhe causaram tantas mudanças. O mesmo tempo não fora capaz de imprimir nos demais hobbits do Condado as mudanças que Frodo sofreu em suas aventuras. Longe de casa tudo o que ele mais ansiava era poder voltar ao lar, mas quando isso acontece uma estranha sensação se apossa do pequeno hobbit, sente-se incomodado com a monotonia do seu lar. Certamente não era o mesmo Condado de quando ele partiu, mas não havia mudado tanto assim a ponto de não mais acolher seu pequeno herói. A verdade é que fora ele, o pequeno Frodo que mudara e se tornara grande demais para o Condado! Que transformação! E assim, ele precisa seguir em frente pois não é mais a mesma criatura para quem um dia o Condado fora tudo o de que precisara. Ele necessita seguir em frente para embarcar numa aventura completamente nova. Talvez seja a sua última viagem e nem mesmo a força de sua provada e durável amizade com Samwise foi suficiente para privá-lo de mais essa jornada. E assim, ele segue em direção ao oeste!
Penso que todos nós, de alguma maneira somos iguais ao pequeno hobbit. As experiências que se acumulam nas bordas de nosso ser, pouco à pouco nos impelem a seguir em frente. Cada novidade é ao mesmo tempo uma conquista e um impulso para avançar um pouco mais numa direção que não controlamos e numa velocidade que ignoramos. Nunca estamos contentes com o nosso estado porque sabemos que um estado novo logo se nos mostrará. Por isso nunca estamos satisfeitos com o nosso “condado” porque sempre tem um horizonte que nos convida a mais uma aventura, até chegarmos finalmente em casa! Aí, imagino eu, repousaremos!

Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Porque os que falam desse modo manifestam estar procurando uma pátria. E, se, na verdade, se lembrassem daquela de onde saíram, teriam oportunidade de voltar. Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade. Hebreus 11:13-16

Wilson de Oliveira