domingo, 3 de agosto de 2008

Compreender


Quantas coisas não compreendemos! Quantas coisas não conhecemos! Quantas coisas mal compreendidas! E quantas ignoradas!

Embora julguemos compreender certas coisas e conhecer outras, de fato elas se acham no conjunto das incompreendidas e ignoradas, por compreendê-las equivocada ou insuficientemente e ignora-las em parte ou completamente. Há um modo de compreender que poucos conhecem e há um jeito de conhecer que poucos compreendem. Por isto é necessário saber compreender mesmo quando não se conhece o que se compreende. Na vida nós compreendemos muito mais que conhecemos.

Compreender não é conhecer tudo acerca do que se sabe, mas aceitar as limitações impostas à nossa imperfeita forma de conhecer.
Compreender consiste em distinguir bem o limite entre ignorância e incognoscibilidade. Há coisas que não sabemos por ignorância, outras, por limitação. A primeira se qualifica pela ausência de esforço e ciência, a segunda, pela incapacidade de nossa fraca natureza.
Por isto, compreender é tão mais necessário que saber. E saber isto nos ajuda a compreender muita coisa!

Compreendo que coisa eu sou, embora não possa conhecer-me completamente.

Compreendo que a vida é maravilhosa embora desconheça o que seja vida.
Compreendo que a morte é terrível e ameaçadora, embora não saiba o que seja morte , senão o cessar de um certo modo de viver; o que também, em parte, desconheço.
Compreendo que o tempo gasto junto aos que amamos é o melhor que podemos ter, embora não saiba eu o que, de fato, seja o tempo.
Eu sei que as lágrimas são secreções produzidas por certa glândula. Que o sorriso é o movimento caracterizado pela dilatação e contração de vários músculos faciais. Sei que tanto o choro quanto o sorriso são manifestações físicas de sentimentos opostos da alma. Compreendo as sensações de tristeza e alegria, embora não saiba o que sejam essas sensações.
Não sei por que alguns choram quando deveriam se alegrar e outros se alegram quando deveriam chorar. Mas compreendo que é preciso sorrir e chorar, pois essas sensações dão cor e movimento à vida; embora eu desconheça o que seja cor e movimento.


Há um modo de compreender que consente e acalma, que sossega e aquieta a alma.
Que concorda e silencia, e sem hesitar consente enquanto aprecia,
Esse “sei lá o quê” que arrebata e acalma,
E de dúvidas minh’alma esvazia.

Chamarei de fé essa espécie de sabedoria,
Esta certeza dócil e inconteste,
Que convence mais que a razão tardia
O coração contrito que padece!


Desse ente confuso e vacilante,
Golpeado pelo pecado que o apavora,
Vivendo seus dias como se fossem instantes,
Enquanto a vida, como névoa, evapora.


Dessa fé dependem minhas únicas certezas.
Dessa sabedoria, a única explicação.
De Seu Autor, cheio de graça e belezas,
Emanam vida e salvação!


Como o pensador santo agora posso entender,
Essa verdade eterna que me faz pensar,
“Preferível é vos encontrar sem vos compreender,
Do que vos compreendendo, não vos encontrar.”

Por: Wilson de Oliveira