sexta-feira, 18 de julho de 2008

O Corredor


Já parou para contar por quantos tipos de corredores passamos no dia a dia? Existem corredores das mais diversas formas. Temos o corredor da casa, onde as crianças insistem em brincar e espalhar seus brinquedos. Há também o corredor dos prédios, referência para os porteiros ao dar uma informação: “final do corredor à direita”. Existe também o corredor do hotel, onde conhecemos pessoas novas e interessantes. Tem ainda o corredor do hospital, local em que esperamos com angústia o atendimento do médico, com ansiedade o resultado daquela cirurgia, com expectativa o nascimento do primeiro filho. Que dizer do corredor da escola, local em que os alunos gostam de ficar e que compete com o interior das salas de aula? Há tantos corredores! E quando ampliamos um pouco o conceito de corredor, isto é, um meio de acesso, percebemos que as vielas, as ruas, as avenidas, as auto-estradas e até mesmo os rios se transformam em imensos corredores.

Mas o que representa o corredor além desse meio de acesso físico de um lugar a outro? Gosto de pensar no corredor como o lugar das possibilidades. Quando estamos no corredor temos diante de nós as mais diversas possibilidades, podemos escolher abrir a porta que desejarmos, e mais ainda, é somente a partir dessa posição privilegiada que podemos contemplar as portas, as possibilidades.

Na vida cristã passamos por muitas experiências que podem ser comparadas a corredores. Se prestarmos um pouquinho de atenção veremos como a analogia é perfeita.
Quero citar uma passagem bíblica em que podemos visualizar esse quadro. Ela encontra-se em Êxodo 14, na ocasião da travessia do Mar Vermelho. O povo de Israel estava diante do mar e na sua retaguarda aproximava o exército de Faraó. Se visualizarmos a situação dos israelitas concluiremos que eles estavam no meio de um enorme corredor, formado, por um lado, pelo mar e, por outro, pelo exército egípcio. Já mencionei acima que a imagem do corredor representa possibilidades. Mas ela significa também momento de crise. E por crise quero sugerir momento de decisão. Esse momento é de extrema importância porque é nele que tomamos nossas decisões. E precisamos de sabedoria para tomar a decisão certa. Mesmo se a decisão for a de não decidir por nenhuma das possibilidades apresentadas, de certa forma, decidimos, decidimos ficar no corredor, e aí estagnamos, não avançamos. Mas o corredor não foi feito para ser habitado, é um local de trânsito, de passagem, de mudança. Isto quer dizer que é preciso mover-se. Foi o que Deus disse a Moisés: “Dize aos filhos de Israel que marchem”. Mover é preciso porque o corredor não é lugar para estacionar, parar, se acomodar.

Por outro lado, não devemos temer estar no corredor, desde que o entendamos como esse lugar de passagem, onde transitamos entre as possibilidades que se abrem e as portas que aparecem. Apesar do aparente desconforto que o corredor oferece é somente quando entramos nele que contemplamos a possibilidade da mudança, da transformação, do avanço e do aperfeiçoamento. A saída do corredor ou, se preferir, a entrada numa das possibilidades pode surgir do lugar mais inesperado. Nem sempre a porta mais bem entalhada, melhor posicionada e mais atrativa será a porta certa. Nem tampouco a que está entreaberta ou que não oferece muita resistência à passagem. A saída ou a entrada pode estar onde jamais imaginamos. Mas uma coisa é certa, ela só aparecerá a partir da perspectiva do corredor.

Aqueles que insistem em permanecer no quarto escuro ou que evitam o corredor não compreenderam ainda o significado deste. Para eles, o corredor representa sempre um desconforto a ser evitado a todo custo. As oportunidades de mudança são vistas como barreiras intransponíveis. Estes não enxergam o corredor como uma abertura às possibilidades, mas sim, como um beco sem saída, lugar de murmuração e queixa. Dessa forma, a expressão beco sem saída, muito usada em ocasiões difíceis, é muito mais a descrição de uma capacidade de visão do que a descrição de uma realidade efetiva. Enxergam o beco sem saída aqueles que perderam a capacidade do olhar mais atento. Pois o que para alguns é beco sem saída, para outros é corredor de oportunidades. E todos olham do mesmo ângulo, da mesma perspectiva. Ah! Mas quanta diferença nesse olhar!


“Mas os filhos de Israel caminhavam a pé enxuto pelo meio do mar; e as águas lhes eram quais muros, à sua direita e à sua esquerda.”
Por Wilson de Oliveira